O que é Cultura Popular

 

 

Cultura Popular    recobre um complexo de padrões de comportamento e crenças   de um povo.  No entanto, para Antônio Augusto  Arantes  cultura popular é um aglomerado de   fragmentos que apresenta significados bastante heterogêneos e variáveis.

  Muito se tem  falado e escrito sobre cultura popular mas ainda não é suficiente porque a pesar de todo estudo ainda  se deturpa muito  o sentido dessa palavra, já é hora de pararmos e refletirmos sobre a profundidade que essa expressão abrange.

Sabemos perfeitamente que  Aurélio Buarque de Holanda, define com autoridade, em seu  bem conceituado dicionário de língua portuguesa,  cultura em seu uso corrente como significando “saber, estudo, elegância, esmero, conhecimento, informação”,  ela evoca os domínios da filosofia, das ciências e das belas artes. Porém  quando  acrescentamos o termo “popular”  entramos num paradoxo entre “cultura”  e “ povo”, como se tudo   que vem do “povo”  fosse desprovido de saber. Basta olharmos em nossa volta para percebermos que são bastantes diversificados  os valores e conceitos vigentes na nossa complexa sociedade.

A massa homogênea, que é o povo brasileiro,  é  formada de várias raças e origens diferentes e cada um com sua cultura, costumes e religião. Embora nos eduquem o tempo todo a  termos um modo de vida civilizado -  culto, não podemos prescindir dos objetos e  práticas que qualificamos como “populares”, pois o nosso cotidiano é mesclado com esses costumes: samba, seresta, bumba-meu-boi, reisado, carnaval.  A escola, a igreja e a família  são instituições formadoras do ser e juntamente com os meios de comunicação de  massa têm a função de produzir e divulgar idéias como se fossem ou devessem ser ou se tornar os modos ideais  de agir e de pensar de todos.

 

Repudiamos  tudo aquilo que está relacionado com o “povo”  qualificando  como ingênuo, de mau gosto, indigesto, errado, pitoresco, ineficaz, mas quando traçamos nossas teorias  temos a tendência de  inserir essas  coisas contraditórias em relação à cultura popular em nossos planos individuais.  Por que essa ambivalência em relação ao que é “diferente”, e especialmente, ao que é identificado como  “povo”?

            Pela mesma razão por que reagimos no  aspecto cultural do etnocentrismo, o qual  tende a julgar o “outro”  em relação às normas e comportamentos  do grupo social a que se pertence.  Corresponde a uma percepção da vida e da sociedade do observador onde o seu próprio grupo  é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através de valores,  modelos e  definições do que é a existência.              

Esse termo “popular”   representa  um obstáculo  pelo qual as outras sociedades são observadas em função da nossa, em geral, portador de preconceitos que são manifestações de uma visão unilateral e deturpada da realidade social. Assim, pressupomos que a  “cultura popular” surge como uma outra cultura contrária ao saber culto dominante.  Podemos observar dois modelos de relação a partir da identidade entre grupos de "membros"  com culturas diferentes: em uma a identidade é vista exclusivamente pelo sistema de normas de sua própria cultura, onde o “diferente”  é desvalorizado como incivilizado, incultos ou errado e  a outra onde a  cultura "diferente" atua como grupo de comparação crítica com relação às  deficiências práticas do grupo central.

Atentamos especialmente para confronto das diferenças entre  a “elite/culta”  e  “povo/popular” sobre  a perspectiva  antropológica. O grupo da “elite” julgando-se  detentor  do  saber sempre se exclui do grupo destacado como “povo”.  Mas quem é a “elite” e quem é o “povo” do qual se refere o autor, deste livro?  A forma sutil como agimos   frente a outros grupos, tentando rotulá-los, discriminá-los, demonstramos diariamente exemplos  etnocêntricos.

   Etnograficamente o grupo do “eu”, em contraposição ao grupo do “outro”  - diferente –  é aquele que é visto como o primitivo, o não civilizado e que se opõe ao  desenvolvimento da civilização; por sua vez, o “povo”,  em contraposição à elite – saber -  é a massa homogeneizada composta por várias camadas, o não saber.  È necessário  que haja um ponto de equilíbrio  para unir esses dois extremos.  Precisamos aprender com as diferenças do “outro”,  assim, a antropologia tem como objetivo   pensar  sobre a diferenças culturais entre os povos, não radicalizando-a e sim, relativizando-a.

Sobre essa diferença gira a problemática desta obra: Como unir os opostos, “elite’ e o “povo”? Acredito que este problema só poderá ser solucionado se pensarmos a cultura no plural e no presente e que se parta de uma concepção não normativa e dinâmica.  Devemos transformar a diferença em uma relação capaz enriquecer a cultura do “eu”  com aquilo      que o “outro”  tem de diferente, melhor dizendo, é conhecer a diferença, experimentando a própria  “cultura popular”  como diferente, em vez de ignorá-la devemos absorvê-la ou aprender com ela. Pois assim podemos manter uma relação harmoniosa de  contribuição mútua com  começo, meio e fim.

Concluímos, então, que no diz respeita à cultura popular a antrolopologia surge para intermediar a questão da “diferença” através do processo harmonioso de reciprocidade como forma de entendimento, de diálogo entre os povos, assim como a   cultura popular  busca dialogar com  a cultura erudita. O ponto de partida usual do trabalho do antropólogo é a observação direta de indivíduos se comportando face a outros indivíduos e em relação à natureza.

Acredito  na união dos opostos, porque aprendemos com as diferenças, pois se somos todos iguais e se temos o mesmo pensamento,  que conhecimento o “outro” pode nos acrescentar?.

O fato de sermos diferentes é que o ponto de partida para a civilização e o progresso do indivíduo, só podemos deixar de ser um povo heterogêneo  para sermos homogêneos.

 

ARANTES, Antônio  Augusto. O que é Cultura Popular. 14 ª Edição. São Paulo. Editora Brasiliense, 1998.