Chapada Diamantina

 

Chapada Diamantina

 

Terra primitiva, espécie de mundo perdido pela civilização – assim é a Chapada Diamantina, 84.360 km verdadeiro oásis úmido em plena região seca. Ali estão algumas das mais belas serras e montanhas do país, milhares de quilômetros de rios águas claras, vales de vegetação exuberante, cascatas, cachoeiras, gutas, matas ainda virgens, além de diversos espécimes vegetais e animais raros.

Parte desse santuário natural, graças ao Decreto 91.655 assinado pelo presidente José Sarney em 17 de setembro, está agora livre da ação predatória do homem – iniciada no século XVIII com as descobertas de minas de ouro, reforçada no século seguinte com as de diamante e intensificada nas duas ultimas décadas com a instalação indiscriminada dos garimpos mecanizados e de atividades agropecuárias. Por esse decreto, foi criado o Parque Nacional da Chapada Diamantina, com 152 mil hectares, situado na serra do Sincorá, flanco leste da Chapada, englobando áreas dos municípios de Lençóis, Andaraí, Mucugê, Palmeiras e Ibicoara.

A gruta do Lapão, no município de Lençóis, é um belo e singular comprovante da antiguidade das terras da Chapada – período pré-cambriano. A gruta é formada por uma exuberante composição de rochas calcárias e lá dentro nasce um rio. Filodendros, musgos liquens, bromélias, trepadeiras, samambaias e arbustos variados crescem nas laterais externas da gruta e no solo.

A beleza do novo parque é completada pelas diversas trilhas pavimentadas com pedras, abertas no passado pelos garimpeiros para o transporte do diamante. Alguns desses caminhos – pelos quais se pode atingir qualquer ponto da Chapada -, mesmo com centenas de anos de uso, conservam-se em bom estado e poderão agora ser utilizados pelos visitantes do Parque.

 

Devastação já é grande

A criação do Parque Nacional possibilitará a preservação de fauna e flora singulares, inexistentes em outras regiões do país, outrora abundantes e agora dizimadas por queimadas e desmatamentos indiscriminados, pela caça ilegal e pela coleta em larga escala de plantas. A presença contínua e intensiva do garimpo – primeiro artesanal e mais recentemente mecanizado – vem causando a devastação das matas ciliares e o assoreamento dos rios, perturbando a dinâmica fluvial e contribuindo para a dizimação de espécimes de plantas raras. Utilizando-se do devastador recurso da queimada, essa atividade econômica tem contribuído decisivamente para a redução de grande parte das florestas da Chapada.

No entanto, a população local também contribui para o processo de devastação. Provoca incêndios, pratica a caça ou arranca plantas locais.

A situação da fauna não é menos preocupante. À exceção de uma ou outra ave ou calango e excluindo os insetos, todos os demais representantes de uma outrora abundante fauna estão ameaçados de desaparecer. A triste situação é causada pela caça desenvolvida nos últimos 150 anos – os garimpeiros, por exemplo, têm especial preferência pela carne de anta – ritmo que supre a demanda dos restaurantes típicos.

 

 

A civilização do ouro e diamante

O ouro e o diamante deram nome à então desconhecida região central da Bahia – Chapada Diamantina -, propiciando sua colonização . Desde a descoberta das auríferas (século XVIII) na bacia do rio de Contas e do diamante (século XX) nas nascentes do Paraguaçu, na serra do Sincorá, a região passou a receber fluxos migratórios de várias partes do país.

As civilizações do ouro e do diamante criaram vilas e povoados, transformando Rio de Contas e depois Lençóis em capitais regionais, abriram ferrovia, ativaram a navegação fluvial , construíram uma era de fausto e gloria e deixaram um rico patrimônio representado pelos belíssimos conjuntos arquitetônicos coloniais das cidades históricas de Lençóis, Andaraí, Mucugê e Rio de Contas.

Depois de quase dois séculos de exploração intensiva, as serras hoje possuem muito pouco minério e o garimpeiro autônomo e solitário desaparece progressivamente, dando lugar ao garimpo mecanizado, atividade que ainda consegue sobreviver na região e é muito mais prejudicial ao meio ambiente, devido ao uso de dragas.

 

Oásis dentro do sertão

Com altitudes que variam de 1000 a 1400 m, a Chapada Diamantina eleva-se como importante muralha que separa o Vale do São Francisco. O relevo montanhoso que domina grande parte da área da Chapada, associado às características geológicas e orográficas e ao clima, faz da região um verdadeiro oásis úmido e verdejante em pleno sertão baiano.

Parte do oásis do sertão baiano foi transformada em parque nacional. O parque dará ainda especial impulso à nascente e próspera atividade turística que se vem desenvolvendo nos últimos anos na região – fazendo crescer mais rapidamente o já significado número de pousadas, pensões e restaurantes típicos e o fluxo de visitantes.

Outros importantes monumentos naturais da Chapada devem ser preservados por meio da criação de pequenos parques estaduais ou municipais, entre eles o morro do Pai Inácio – castelo de granito de 250 m de altura, considerado o símbolo da Chapada, no município de Palmeiras –, o pico das Almas, com 1.875 m de altitude, em Rio de Contas, considerado o ponto mais alto da Bahia, e a gruta da Lapa Doce, em Iraquara, com impressionante formação de estalactites e estalagmites.